[Tema da Rubrica de Fevereiro na Sic Mulher, que pode ver aqui]. São vários os motivos que levam as mulheres às cesarianas. Para algumas mulheres representa uma escolha assumida e ponderada; para uma pequena percentagem, por razões médicas e fisiológicas a cesariana torna-se também um cenário antecipado. Mas o mais comum é a cirurgia surgir de emergência, e esta será a situação menos tranquila, pois apanha os pais de surpresa. Sem tempo para se prepararem, os pais sentem-se muitas vezes receosos e decepcionados com a notícia: interrogando-se sobre o que correu mal, a sensação de que falharam e até mesmo de choque é comum nestas situações. Principalmente quando há uma elevada expectativa de que o parto decorra segundo um modelo determinado. No entanto, também há mães que se sentem aliviadas com a decisão, se o parto foi muito longo e exaustivo, assim como as mães que desenvolveram uma relação de confiança prévia com o seu obstetra se podem sentir mais cuidadas e seguras em relação à intervenção. Curiosamente, a reacção mais adversa deve-se não própriamente à cirurgia em si, mas em parte, devido aos pais não se encontrarem preparados para essa eventualidade. Para Pam England, o facto de não se falar abertamente da cesariana no dia-a-dia, nem nas preparações para o parto gera juízos de valor, o que faz com que as mulheres se sintam isoladas e envergonhadas quando passam por ela. O mal estar vem muitas vezes de não saberem o que fazer, o que esperar ou sequer o que pensar sobre si próprias nessa situação. Mas QUALQUER PARTO PODE SER VIVIDO SEM CULPA E COM AMOR:
Primeiro, as mulheres devem perceber que PODEM DAR Á LUZ DE QUALQUER FORMA. Que podem amar qualquer parto que tenham. Em última análise, que podem aceitar-se a elas próprias e ao que desconhecem em si. Numa situação limite como o parto, frente à dor, saltam de imediato os medos e revela-se o inconsciente, o que faz dele uma travessia imprevisível. Porém, lembrem-se que aquilo que realmente precisam para um nascimento é amor, suporte e compaixão, por vós próprias e pelo caminho que tomarem - seja ele qual for!
E quando o parto toma rumos inesperados e supostamente não há mais nada que se possa fazer, a mãe tem de estar aberta a todas as possibilidades. O que não significa gostar da situação, mas saber lidar com ela: não desconectando de si própriam nem do bebé, permanecendo completamente presente, abraçando a experiência a partir de dentro e passando por cima do desconhecido com uma forte de energia de confiança e amor para receber o seu bebé e celebrar-se a si propria como mãe.
Não desenvolver expectativas é também essencial. Não faça planos. Preparar-se sim, desenvolvendo-se internamente para gerir o medo e a ansiedade, trabalhar a dor e a forma de estar presente, segura e confiante durante o trabalho de parto, mas mantendo-se consciente da sua imprevisibilidade e aberta às possibilidades necessárias.
Para os que rodeiam ou preparam a mãe para o parto: falar da cesariana de uma forma natural e tranquila, como poderá ser o cenário e o que pode fazer se ela acontecer é uma mais valia. Não significa preparar para a cesariana, mas falar sobre ela gera aceitação e confiança na mãe, caso a cirurgia venha a ocorrer.
Para os pais: lembrem-se que durante a cesariana podem e devem ter um papel muito mais activo. Uma vez que a mãe esta temporáriamente imobilizada, podem ser os olhos, as mãos e ouvidos da mãe, fazendo a ponte entre ela e o bebé, relatando como ele é, o que está a acontecer e assim mantendo-a o mais possível presente durante todo o parto.
Na cirurgia: não desconecte e mantenha-se sempre em contacto com o bebé, falando com ele e explicando o que vai acontecer. Se for possível e isso a confortar, peça à equipa médica um momento para essa intimidade, ou uma oração. Depois do bebé nascer peça também para logo que for possível o colocarem junto de si, permitindo o contacto pele com pele, para que possam sentir o cheiro um do outro e o despertar dos sentidos ajude a promover a vinculação entre mãe e bebé.
Após o parto: Depois de tudo passar e recuperar, é sempre valioso integrar o parto e essa é sempre a última sessão da preparação da creatingBirth. O parto é sempre revelador, e um retrato de nós próprias. Tomar consciência do que aconteceu e porquê é uma grande ferramenta de auto-conhecimento e permite digerir o sucedido. Para além das questões fisológicas específicas que tenham conduzido à cesariana e do medo extremo, que por si só poder bloquear o parto, alguns obstetras e autores têm leituras interessantes sobre o suceddido: o Dr. Herbert Jones fala de uma recusa inconsciente da mãe em crescer, em passar do estado de menina, para o de mulher; outros autores falam do confronto com a figura da mãe e da dificuldade em equipara-se a ela e em, inconscientemente claro, refutar a maternalidade. A Drª Jovanovic por exemplo assinala alguma necessidade de aprovação em relação à auto-expressão...
Enfim, o parto e os meses que se seguem podem tornar-se um precíoso período de crescimento sustentado, indo de encontro ao melhor de si, ao melhor das mães!